quarta-feira, 11 de junho de 2014


Analfabetismo no Brasil – o mesmo do mesmo

Folheando uma antiga Enciclopédia Barsa de 1977, leio que nos anos 1970, o Censo Demográfico contava que 38% da população de então era analfabeta, num universo de mais de 93 milhões de pessoas oficialmente. Fiquei curioso e me detive um pouco de meus afazeres para pesquisar o quadro atual de nossas condições. Fui à “Barsa” de nossos dias, o Google, para verificar alguma notícia oficial.

Segundo as pesquisas do IBGE, o Brasil em 2000 contava em sua população com 12,8% de analfabetos e já no Censo de 2010, esse índice caiu para 9%. Isto significa duas coisas básicas: o nível de escolarização dos brasileiros aumentou nos últimos 40 anos e o número de alfabetizados passou para 91% em nossa população. Em 2012, os dados parciais já apontavam que o número de analfabetos haviam novamente caído para 8,7% do número total de brasileiros. Os dados são promissores.

Porém, outro quadro aparece que faz com que se necessite repensar a forma ou as técnicas utilizadas na alfabetização por aqui. O IBGE apontava em 2001 que 33% dos brasileiros eram analfabetos funcionais e em 2012 eram 20%. Hoje diz-se que esta taxa está em 18,4%. Uma pessoa considerada analfabeta funcional pode variar em dois níveis mais comuns para efeito de comparação. Vejamos:

Alfabetizados em nível rudimentar: localizam uma informação explícita em textos curtos e familiares (como, por exemplo, um anúncio ou pequena carta), leem e escrevem números usuais e realizam operações simples, como manusear dinheiro para o pagamento de pequenas quantias.

Alfabetizados em nível básico: leem e compreendem textos de média extensão, localizam informações mesmo com pequenas inferências, leem números na casa dos milhões, resolvem problemas envolvendo uma sequência simples de operações e têm noção de proporcionalidade.
Agora façamos a matemática básica. Estamos em 2014 e lidamos com os dados do IBGE até 2012, mas estatisticamente podemos fazer inferências pelos números. Ao somarmos o número de analfabetos brasileiros com o de analfabetos funcionais, contamos ainda com o elevado percentual de 27,1% segundo as melhores pesquisas. Isto significa novamente duas coisas:

Avançamos realmente na questão da alfabetização básica das pessoas.

Mas em 42 anos só conseguimos alfabetizar plenamente 11% do total de analfabetos em relação ao percentual de 1970.

Com esse percentual de alfabetização o crescimento de plenos alfabetizados foi de apenas 2,75% a cada 10 anos e 0,27% a cada ano, bem diferente das taxas apresentadas pelos nossos órgãos oficiais que declaram que o índice de analfabetismo cai 0,4% ao ano. Desta forma, é clara e evidente que nossa política educacional necessita de mudanças concretas para que os números não sejam alterados somente por causa de palavras – analfabetos / analfabetos funcionais / alfabetizados básicos – mas que alcancemos o nível sonhado de elevado percentual de plenamente alfabetizados.

Sabemos que as condições de 40 anos atrás eram outras, a população era bem menor que a atual e os acessos também, mas na era da tecnologia é inaceitável as desculpas de hoje em nome das dificuldades do passado. Num país onde a educação é um direito constitucional, ainda estamos longe de tornar-se uma realidade plena para todos. A educação é um esforço consciente de todos, dos pais, da sociedade e do Estado.

À luta, Brasil!

Carlos Carvalho
Fundador da ong ABAN Brasil
Graduando em Ciências Sociais pela Universidade Metodista de São Paulo

Referências:

Constituição da República Federativa do Brasil. Texto atualizado 2013. Pdf. Artigo 205.

Enciclopédia Barsa. São Paulo:Encyclopaedia Britannica Editores Ltda, 1977. Volume 3. p. 237-238.

IBGE: analfabetismo cresce pela primeira vez desde 1998. Disponível em: http://noticias.terra.com.br/educacao/ibge-analfabetismo-cresce-pela-primeira-vez-desde-1998,e5e1e55448c51410VgnVCM3000009acceb0aRCRD.html. Acessado em 10/06/2014.

Inaf aponta o perfil do analfabeto funcional brasileiro. Disponível em: http://www.ibope.com.br/pt-br/noticias/Paginas/Inaf-aponta-o-perfil-do-analfabeto-funcional-brasileiro.aspx. Acessado em 10/06/2014.

Taxa de analfabetismo para de cair no Brasil após 15 anos, diz Pnad54. Disponível em: http://educacao.uol.com.br/noticias/2013/09/27/analfabetismo-volta-a-crescer-no-brasil-apos-mais-de-15-anos-de-queda.htm. Acessado em 10/06/2014.

Você sabia que o número de pessoas que não sabem ler ou escrever está diminuindo no Brasil? Disponível em: http://7a12.ibge.gov.br/vamos-conhecer-o-brasil/nosso-povo/educacao. Acessado em 10/06/2014.



Nenhum comentário:

Postar um comentário