quarta-feira, 4 de junho de 2014


Crack – a droga da vez

É propagado quase que diariamente nas principais cidades e veículos de comunicação do Brasil que o crack representa o atual desafio para a sociedade e governos no quesito da dependência química nos dias de hoje. Esta droga, que é subproduto da cocaína, figura como um dos principais inimigos de nossa saúde pública. Apesar de todos os exageros anunciados, não se pode negligenciar o resultado destrutivo de qualquer substância química viciante, principalmente o do crack.

Ele apareceu no Brasil por volta de 1990 e, desde lá, seu consumo não parou de crescer. As estimativas mais conservadoras dizem que a população de consumidores desta droga, só no estado de São Paulo pode chegar a 300 ou a 500 mil usuários, porém isso se restringe às maiores cidades e a capital, sem se ter uma visão clara das realidades no interior. A difícil recuperação dos usuários é considerada um dos fatores mais agravantes deste tipo de droga.

Os fatores resultantes de sua utilização tão amplamente conhecidos hoje são: a degradação física, a quebra dos laços sociais e relacionamentos familiares, a marginalização, os fenômenos psicóticos e o isolamento do indivíduo. Além de outros fatores como, a baixa escolaridade, a pobreza, serem jovens (principalmente homens) e pessoas vindas de famílias desestruturadas, se somam para produzir um quadro desanimador para aqueles que intentam pensar e promover políticas públicas que contemplem uma solução viável para o problema.

Para incrementar ainda mais as dificuldades, não existe nenhum medicamento que possa ser usado no tratamento da dependência química capaz de diminuir a vontade de usar a droga. Nossos hospitais gerais, em sua grande maioria, não dispõem de psiquiatras e muito menos de psiquiatras especializados em dependência química para o atendimento clínico e emergencial. Também não dispõem de estrutura física nem de enfermagem e corpo técnico treinado para esse tipo de atendimento.

Além de tudo isso há as críticas feitas pelos profissionais da saúde, como os psiquiatras, que consideram que não existe ainda uma visão ampla das questões associadas no uso do crack. Esses profissionais afirmam que não se pode tratar o usuário simplesmente como um “transgressor” ou como um “ser criativo” quando do ato dele se utilizar das drogas, romantizando o problema. Também não há, para os mesmos, a utilização do livre arbítrio nesse uso.

Ao contrário, o cérebro de um dependente é danificado e modificado de tal modo que a pessoa deixa de ter escolhas, só restando a busca da substância como objetivo e sentido da vida. Outra coisa asseverada por alguns é que não há uma cultura de prevenção da utilização das drogas em nosso país, pois tradicionalmente realizamos a política do “apagar o incêndio”, sempre sofrendo os prejuízos deste modelo de atuação. É sabido que como povo, somos altamente tolerantes e muito pouco precavidos e isso não nos ajuda na resolução de problemas mais graves.

Neste momento, o problema é o crack, mas não podemos minimizar que paralelamente e simultaneamente, sofremos na mesma medida com outras drogas, como a maconha, a cocaína e etc., e ainda com as legalizadas, como o tabaco e o álcool. Todas elas igualmente têm sua parcela na destruição do tecido social no qual vivemos. Todas elas possuem o poder dizimador da saúde de seus usuários e as consequências para a economia do Brasil.

As soluções não podem ser simplistas e o remédio não é um fármaco único que poderia resolver prontamente todas as doenças e os resultados delas manifestos diante de nós todos os dias. Para problemas complexos exigem-se soluções complexas, multidisciplinares, amplas, com cosmovisão holística, incluindo não apenas o indivíduo todo, mas também sua rede de relacionamentos. Isto sim se configura no tremendo desafio para a nossa sociedade atualmente. Não é trabalho somente para especialistas, mas para todos: a sociedade, as comunidades, os governos, os pensadores, a igreja, os canais de comunicação e a família. Todos.


Carlos Carvalho
2 de junho de 2014

Referências:

CRACK: UM DESAFIO SOCIAL. Sapori LF, MedeirosR, organizadores. Belo Horizonte: EditoraPUC Minas; 2010. 220 p.ISBN: 978-85-60778-70-6. Resenha. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 28(2):405-406, fev, 2012. PDF.

DEBATES. Publicação da ABP – Associação Brasileira de Psiquiatria. Ano 2. Nº3. Mai.Jun de 2010.

GEOGRAFIA DA DROGA: um desafio sem dimensão. Jornal O Estadão.
Disponível em: http://infograficos.estadao.com.br/especiais/crack/geografia-da-droga-um-desafio%20sem-dimensao.html. Acessado em 02.06.2014.

Imagem. Pedras de crack. Arquivo pessoal.


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